Março de 1959. João Gilberto, LP Chega de Saudade voz violão, dois em um apresenta um samba batido diferente, uma nova bossa, desafinadamente afinada e aí, meus caros, tímpanos e gogós, nunca mais foram os mesmos. 13 anos, um cantinho e um violão era o que faltava.
No repertório disse antológico disco considerado por muita gente, o melhor de nossa música popular, três músicas de Carlos Lyra. Fiquei ligado. Logo em seguida sai o 1º LP do autor de Maria Ninguém, Saudade fez um um samba e Lobo Bobo que eu já tinha aprendido dedilhar e cantar a duras penas e daí pra frente fui aprendendo: Menina, Quando chegares, Barquinho de papel, Ciúme, Coisa mais linda, Você e eu, Marcha da quarta-feira de cinzas, Feio não é bonito, Quem quiser encontrar o amor, Influência do jazz, Aruanda, Se é tarde me perdoa, Minha namorada, Maria Moita e todas do musical Pobre Menina Rica, e outras menos conhecidas como as belíssimas Aonde andou voce e Só não vem você, e agora mais de sessenta anos depois, tive a honra de ser seu parceiro e a alegria de ouvi-lo cantando uma das sua ultimas composições, nosso Vagalume, em dueto com minha filha Céu.
São Paulo, era a cidade que mais crescia no mundo, mas, ainda tinha mais prédios do que edifícios, mais chácaras que supermercados, mais vento que academias, e muito, muito mais passarinhos, e claro, campos de futebol. Aliás, no Brasil dos anos 50, quem não nascia gente tinha grande chance de nascer bola, ou passarinho. Teve um, Pelé, que nasceu gente e virou rei da bola; outro, Mané, que nasceu bola e virou passarinho, oGarrincha. Aliás, com esses dois que jogando juntos nunca perderam, o escrete canarinho nos deu a Copa do Mundo de 1958, sambando com a bola no pé (no jogo, não no pagode). Pra quem não conheceu a Paulicéia ddsse tempo, a Avenida 23 de maio era um córrego, e, do terreno onde fica o Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia até o Clube Círculo Militar era tudo campos de futebol; plantações de dribles, bicicletas, chapéus, sem-pulos, embaixadas e tabelinhas. Todos pelados. O campo mais bonito era o do quartel, mais acima, na rua Abílio Soares, com a Tutóia, um tapete verde. Quartel sem muros, só as guaritas, uma em cada rua, um paraíso para a garotada que entrava sem bater continência, batia bola, bola-ao-cesto, tomava banho e saía do mesmo jeito, sem continência nenhuma. Bem antes da revolução de 64. Lembro do Pelé jogando ali na seleção do exército, fazendo dupla com Mazzola antes de trazerem o caneco. A copa do mundo é nossa; com brasileiros não há quem possa… O bairro era o Paraíso, que belo nome. Foi lá que eu conheci o garoto Eduardo, já dedilhando o pinho, esabendo que a Bossa Nova era muito natural, os dois inspirados no João Gilberto, que nasceu gente, e virou passarinho. E seguimos vida afora, deslizando nas canções, amigos até hoje. Ele se tornou o Gudin, grande compositor, doutorado em sambas e canções, com pitadas de legítimo sotaque paulistano e parceiro de gente da pesada. E agora, para nosso orgulho já estão disponíveis, para download, partituras e letras com cifras de 150 composições de Gudin, selecionadas e transcritas à mão por ele mesmo e organizadas em 4 volumes (2 com partituras e 2 com letras e cifras), como parte do projeto “A documentação de uma Obra”.
Tudo muito bem organizado num ambiente gráfico especial criado pela sua filha Joana, para a aconchegar a obra do meu velho amigo Eduardo Gudin. Entre, e sinta-se em casa:
E não é que, agora, que a bola nacional anda meio murcha e os passarinhos nos acordam tossindo, nos tornamos parceiros, por obra do meu indecoroso assédio, extensivo a outros parceiros presentes no CD Bem-vindo, que aí segue. Ouça e sinta-se em casa do Walter Appel que juntou todos esses amigos num sarau de inquebrantável otimismo.
O CD Bem-vindo está disponibilizados nas plataformas musicais.
Nossa parceria, nasceu de uma valsa (Dagosa) que o Gudin havia feito, alguns anos atrás. Aqui está ela conforme me mostrou, numa gravação caseira tocando com o mestre Paulinho Nogueira.
Será? – Eduardo Gudin e Edgard Poças, com Maria Clara Novaes e Edgard Poças
Numa certa ocasião, reunido com amigos compositores, tive a ideia de fazer uma parceria musical com cada um deles. Como venho trabalhando na música infanto-juvenil, desde que criei a Turma do Balão Mágico, “há mais de quarenta anos”, imaginei um repertório que refletisse a criança em cada um dos parceiros. Seria um “Balão Mágico” para maiores? Pode ser, talvez movido pelo sentimento de que a infância não volta mais, mas a criança permanece.
São 12 composições inéditas e os meus parceiros são: Carlos Lyra, Dado Magnelli, Daltony Nóbrega, Dino Galvão Bueno, Eduardo Gudin, Laércio de Freitas, Luis Roberto Oliveira, Marcos Valle, Nelson Ayres e Théo de Barros, e uma música de (Anibal Augusto Sardinha – Garoto).
Participaram deste álbum como intérpretes : Céu, Alaíde Costa, Renato Braz, Adriana Godoy, Diogo Poças, Jean William, Ricardo Barros, Maria Clara Novaes, Margareth Darezzo e Edgard Gianullo. Todos os arranjos são de autoria de Pichu Borrelli. A ilustração da capa é de Paulo Caruso.
Este álbum /CD já está disponibilizado nas plataformas musicais.
Letras e Músicas:
Bem-te-vi (Daltony Nóbrega e Edgard Poças) por Renato Brás
De lá do céu ouvi
um bem-te-vi
que bem me viu assim
Assobiando azul
agradeci
que bom estar aqui
que bom que bem-te-vi
Quis imitar o som da tua voz
Mas eu não consegui
e, em compensação
um bem-te-vi
me trouxe essa canção
Felicidade
que bom te ouvir
cantando por aí
lá e aqui
ali, acolá
que nem bem-te-vi
…
Fefê, a foca fofoqueira (Laércio de Freitas e Edgard Poças) por Adriana Godoy
Fefê, foca fofoqueira,
faz fofoca até de focinheira
Venenosa
jararaca
foca na fofoca e ataca
Peçonhenta
Fefê inventa e aumenta um ponto
– Sabe o que ela me contou?
– Depois eu conto
Fefê a foca
Foca na fofoca
Fefê a foca
Foca na fofoca
…
Vagalume (Carlos Lyra e Edgard Poças)
Todo dia o vagalume
recarrega a bateria
à noitinha, acende, voa
reluzindo alegria
Voa, voa pirilampo
Faz do céu sua casinha
Luze, luze
lume, lume
mais parece uma estrelinha
Luze luz luze luz
luze luze luze lume
luze luz luze luz
vaga luz, o vagalume
…
Palhaço (Théo de Barros – Edgard Poças) por Edgard Gianullo
Quando eu piso no picadeiro
Todo mundo abre um sorriso
a plateia é só riso
riso
isso que eu preciso
Se eu vejo uma criança
de carinha amarrada
caio logo na palhaçada
e desamarro a risada
Eu nasci pra ser palhaço
palhaçar, palhaçaria
esse é meu dia-a-dia
Eu nasci pra ser palhaço
semeando o que eu faço
vou colhendo alegria
Sou palhaço
amo o que eu faço
sou pirueta
eu sou tropeção
Sou anedota
sou espoleta
dou cambalhota
no seu coração
…
Joguinho de Montar (Marcos Valle e Edgard Poças) por Marcos Valle
O que você quer ser quando crescer?
viviam me perguntando
Quanta coisa eu podia ser…
…eu ficava, só imaginando…
Um atleta, um cientista, um pop star
Um médico, mamãe ia adorar!
Por meu pai eu seria engenheiro
e de tudo que podia
eu queria ser bombeiro
Bombeiro
eu queria ser
bombeiro
um herói verdadeiro
super-herói verdadeiro
Bombeiro
eu queria ser
bombeiro
um super-herói verdadeiro
O que você quer ser quando crescer?
viviam me perguntando
Quanta coisa eu podia ser… e fazer
…eu ficava, só imaginando…
E agora , o tempo conta o que eu sou
É mágico eu fui, eu sou vovô
E assim o que eu tenho pra contar
Sou um cara igualzinho
Um joguinho de montar
Bombeiro
eu queria ser
bombeiro
um herói verdadeiro
super-herói verdadeiro
Bombeiro
eu queria ser
bombeiro um super-herói verdadeiro
…
Beija-Flor (Anibal Augusto Sardinha (Garoto) e Edgard Poças) por Jean William
Pititico beijoqueiro
Entre as flores vou que vou
Bom de bico vou maneiro
Voo, beijo, beijo, voo
Murmurando levo amores
Levo pólen flor em flor
Beijos doces, multi cores
Bem feliz vou que vou
Nas asas do amor
Eu acordo bem cedinho
Tenho muito que voar
Deus me livre de gaiolas
Não consigo nem pensar
Trabalhando, namorando
Sou um beijo voador
Pra beijar não me atrapalho
Afinal eu nasci pra ser um beija-flor
Voo voo, zôo zôo
Sou artista, sou o show
E mergulho que nem um um trapezista
Paro e beijo que nem equilibrista
É por isso que me chamam
flor do vento, flor de mel
Colibri encantador
Flor das flores, flor do céu
Para cima, para baixo
Para frente, para trás
Engraçado, eu sei voar de lado
Quero ver quem é que é capaz
Giro as asas feito um oito
Colorindo o infinito
Indo e vindo, flor em flor
Passarinho
Beija-flor
…
Galinho Dorminhoco (Dino Galvão Bueno e Edgard Poças) por Edgard Poças
Acorda seu galinho dorminhoco
acorda, tá na hora de cantar
o sol tá lá no céu desde cedinho
e o seu galinho nada de acordar
Acorda reloginho preguiçoso
o dia tá cansado de esperar
galinho dorminhoco abre o bico
quem tem cocorico tem que cocoricar
O gato mia
o pintinho pia
o lobo uiva
ruge o leão
A vaca muge
late o cãozinho
grasna o patinho
relincha o alazão
O burro zurra
o elefante urra
os bichos tem seu jeito de falar
Galinho preguiçoso abre o bico
quem tem cocorico tem que cocoricar
…
Minha terra (Nelson Ayres e Edgard Poças) por Maria Clara Novaes e Ricardo Barros
Dá licença dá licença
é a vez da minha terra
de cantar os seu encantos
e as riquezas que ela tem
Minha terra é tão bonita
que dá gosto a gente ver
e não há lugar no mundo
tão bom de se viver
Nosso céu tem mais estrelas
nossos bosques tem mais flores
nossa vida mais amores
e aqui eu sou feliz
Minha terra é um barquinho
navegando no infinito
minha terra meu planeta azul
você é meu país
…
Bichinhos de estimação (Dado Magnelli e Edgard Poças) por Alaide Costa e Diogo Poças
Você gatinha do meu coração
você meu carneirinho de algodão
você bichinho de estimação
é você
é você
é você
Você leoa, eu o seu leão
você ursinho mais do que pimpão
você bichinho de estimação
é você
é você
é você
Assim,
a lua e o sol
a flor e o jardim
assim somos os dois
nós dois
Amor
eu gosto de você
‘cê quer saber porque
é você
é você
…
Planta Planta (Luis Roberto Oliveira e Edgard Poças) por Margareth Darezzo
Planta, planta
planta aqui e planta lá
Planta, planta, planta
faz o verde verdejar
Verdejar
verdejar o chão
verde já
verde já na plantação
Viva, viva o ar
xô poluição
vamos juntos verdejar
verde já na plantação
Planta um pé, pé, pé
pé-de não sei que
pé de água de beber
pé-de
pede pra chover
Planta, planta, planta
pé, pé, pé
planta, planta, planta planta, planta no seu pé
…
Será? (Eduardo Gudin e Edgard Poças) por Maria Clara Novaes e Edgard Poças
Às vezes eu acho que sim
às vezes, eu acho que não
concordo, às vezes discordo
nem sempre acredito
nem sempre duvido, depende…
Eu acho que tenho razão
às vezes me dizem que não
disseram até que eu
ando me achando
a dona da opinião
Será que eu preciso
ter sempre razão
será mania de competição
será teimosia ou…
será que eu .. tô me achando demais?
E dizem que eu vivo
Querendo impor
aquilo que acho
que tem mais valor
será que no mundo tem
um alguém que tem
sempre razão?
Será que é bom discutir
será que é melhor concordar
discordo
duvido
acredito
depende…
será que é melhor conversar?
…
Bem-vindo (Edgard Poças)
Seja bem vindo
aqui nesta canção
canta comigo
faz bem pro coração
Canta, espanta
aquilo que é ruim
o mundo será bem mais feliz assim
Seja bem vindo
aqui é seu lugar
canto contigo
é sempre bom cantar
Canta amigo, o bem que não tem fim
o mundo será bem mais feliz assim
Faz desta canção
uma oração
de fé, amor e paz
Canta esta canção
vem comemorar
bem-vindo ao nosso lugar
Deixa tristeza lá fora, por favor
fica na boa, libera o bom humor
E canta, espanta
aquilo que é ruim
o mundo será bem mais feliz assim
Aqui é seu lugar
agora é seu lugar
é hora de cantar
é sempre bom comemorar
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Théo de Barros, Edgard Poças, Eduardo Gudin e Carlos Lyra 21/05/ 2022.Edgard Poças, Adriana Godoy e Carlos Lyra 21/05/ 2022.Edgard Poças, Dado Magnelli e Carlos Lyra 21/05/ 2022Dado Magnelli, Ricardo Barros e Carlos Lyra 21/05/ 2022Luiz Roberto Oliveira e Edgard Poças 21/05/ 2022