Março de 1959. João Gilberto, LP Chega de Saudade voz violão, dois em um apresenta um samba batido diferente, uma nova bossa, desafinadamente afinada e aí, meus caros, tímpanos e gogós, nunca mais foram os mesmos. 13 anos, um cantinho e um violão era o que faltava.
No repertório disse antológico disco considerado por muita gente, o melhor de nossa música popular, três músicas de Carlos Lyra. Fiquei ligado. Logo em seguida sai o 1º LP do autor de Maria Ninguém, Saudade fez um um samba e Lobo Bobo que eu já tinha aprendido dedilhar e cantar a duras penas e daí pra frente fui aprendendo: Menina, Quando chegares, Barquinho de papel, Ciúme, Coisa mais linda, Você e eu, Marcha da quarta-feira de cinzas, Feio não é bonito, Quem quiser encontrar o amor, Influência do jazz, Aruanda, Se é tarde me perdoa, Minha namorada, Maria Moita e todas do musical Pobre Menina Rica, e outras menos conhecidas como as belíssimas Aonde andou voce e Só não vem você, e agora mais de sessenta anos depois, tive a honra de ser seu parceiro e a alegria de ouvi-lo cantando uma das sua ultimas composições, nosso Vagalume, em dueto com minha filha Céu.
Sol é luz de ouro Lua, luz de prata o amor é um tesouro prata, ouro, ouro e prata Sol, ô Sol capricha nessa luz dourada hoje à noite eu vou sair toda prateada Que astro-rei sou eu minha luazinha de mel sem você sou pilha fraquinha e apago a luz do céu
Lembra do colar de estrelas que me prometeu ao anoitecer depois, meu astro-rei, deixa comigo vou luar até amanhecer
O colar está prontinho pra te enfeitar estrelas, não canso de vê-las mas é todo teu o meu olhar Sol, Solzinho não vivo sem o teu calor hoje eu vou de lua cheia Lua cheia de amor Madrugada afora até a alvorada quero ver você luar ao romper da aurora eu vou-me embora é hora de raiar Lua, ó Lua! Sol, ô Sol! a nossa estrada é um desejo e o nosso beijo é o mais lindo arrebol!
Ô Sol! Ó Lua!
• Um dos compositores de maior expressão na música popular brasileira. Sua musicografia completa, que inclui versões e músicas compostas para histórias infantis, passa dos 400 títulos – Dicionário Cravo Albin da música popular brasileira
• O grande cartunista e escritor Ziraldo – conhecedor da obra do Braguinha – ao ser apresentado a ele: – O senhor é o Cancioneiro Popular Brasileiro!
• Cantores do rádio: Carmen Miranda e sua irmã Aurora cantando a canção no filme “Alô, Alô, Carnaval“, sucesso gravado em 1936 – visite o post CANTORES DO RÁDIO em ALMANAQUE QUALQUER NOTA pra saber a história dessa música: https://www.youtube.com/watch?v=EM02ENiiuZ0
• Cantores do rádio (Braguinha, Lamartine Babo e Alberto Ribeiro) – Elis Regina, Rita Lee, Maria Bethania, Gal Costa, Fafá de Belém, Marina, Joyce, Zezé Motta, Joana, Quarteto em Cy: https://www.youtube.com/watch?v=prPXz-_L5og
• Seu Libório. Não foi um hit como as anteriores, mas vale a pena ouvir o grande Vassourinha (1923 – 1942) e a flauta do inigualável de Benedito Lacerda (1903 -1958), e o molho do seu regional. Vassourinha foi o nome artístico adotado por Mário de Oliveira Ramos, grande promessa, que foi embora com apenas 19 anos, deixando apenas 12 músicas gravadas. https://www.youtube.com/watch?v=2kWq8PQKsZw
Smile (Original: Música de Charlie Chaplin e letra de John Turner e Geoffrey Parsons) na interpretação do genial Jimmy Durante: https://www.youtube.com/watch?v=UM–qYBjYlc
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• O CARNAVAL do BRAGUINHA
Quando o Brasil marcou o quarto gol contra a temida seleção espanhola, no campeonato mundial de 1950, um torcedor emocionado, afundado na cadeira, chamava atenção: era o único torcedor que não estava comemorava a nossa goleada. – Pessoal, olha só esse cara quietinho, só pode ser espanhol… Em seguida vem o quinto gol e o coro imenso toma conta do estádio:
Eu fui às touradas de Madri Parará-tchim-bum-bum-bum Parará-tchim-bum-bum-bum E quase não volto mais aqui…
O tal torcedor quietinho, não consegue conter o choro; são 200.000 brasileiros cantando Touradas em Madri, a música que ele, Carlos Alberto Braga, o João de Barro, ou Braguinha, compôs com Alberto Ribeiro para o Carnaval de 1938. Ouça a gravação original, com Almirante: • Touradas em Madri – https://www.youtube.com/watch?v=CDWopjSWot0
Vale a pena escarafunchar a letra dessa música. Tem muito a ver.
• Pastorinhas (Noel Rosa e Braguinha). Marcha-rancho inspirada no Rancho das Pastoras de Vila Isabel, foi lançada em 1935, na voz de João Petra de Barros, sob o título de “Linda pequena“, não obteve sucesso. Entretanto, Braguinha , pouco depois da morte de Noel, relançou a composição, com algumas mudanças na letra e no nome, que passou a ser “Pastorinhas”.Essa versão venceu o concurso carnavalesco da prefeitura do Rio de Janeiro, em 1938. Estava em segundo lugar entre as marchinhas, e para o primeiro porque a que liderava até então – Touradas em Madri (!), de Braguinha e Alberto Ribeiro – foi desclassificada, sob a alegação de que era um passo-doble (dança de origem espanhola, muito executada em touradas!). Lançada na voz de Sílvio Caldas em 1dezembro de 1937, obteve sucesso merecido com várias regravações. Esta é a original: https://www.youtube.com/watch?v=dIAMPwqDYlA
• Tem gato na tuba (Braguinha)- Essa foi uma das quatro marchinhas de carnaval que selecionei para o repertório do primeiro LP da Turma do Balão Mágico* . As outras foram P.R. Você, de Hervé Cordovil e Cristovão de Alencar, Cowboy do Amor, de Wilson Baptista Roberto Martins e Upa! Upa! (Meu Trolinho), de Ary Barroso. Foi gratificante ouvir as crianças cantarem composições de autores que até hoje admiro. Aqui, o gato na tuba: https://www.youtube.com/watch?v=oFf0Wiyvgok.
* Escrevi 56 letras para os 7 LPs da Turma do Balão Mágico .
Braguinha e alguns colegas em reunião na casa de Vinicius de Moraes, na Gávea, Rio de Janeiro, para salvar a música de carnaval. 1967. Quem identificar mais de dez, receberá, via email, um apertado abraço virtual.
Braguinha e o colega que levou o piano pra Mangueira
O Instituto Memória Musical Brasileira (IMMuB) é uma organização sem fins lucrativos sediada em Niterói – RJ que é voltada para a pesquisa, preservação e promoção da Música Popular Brasileira. Sua missão consiste em documentar, catalogar e divulgar o acervo musical brasileiro, passado e presente, através da manutenção e atualização de um banco de dados virtual. O resultado é um dos maiores arquivos online de informações, sons e imagens da discografia brasileira, disponível na internet para consultas gratuitas.
Fundado em 2006, o IMMuB conseguiu mapear e catalogar mais de 82 mil discos produzidos no país. Isto equivale a aproximadamente 580mil fonogramas, reunindo mais de 91 mil compositores e intérpretes. Fruto de 25 anos de pesquisa, a catalogação abrange toda a história da música brasileira, desde a primeira gravação em 1902 até os lançamentos mais recentes. O acervo segue em constante expansão, recebendo centenas de discos, capas e músicas mensalmente. https://immub.org/p/o-instituto.
BIBLIOGRAFIA:
OBS: Grande parte destes livros não se encontram mais à venda, mas, os sebos e a NET estão aí para nos salvar.
SEVERIANO, Jairo. Yes, nós temos Braguinha. Rio de Janeiro: Funarte. 1987.
REIS, Aquiles Rique. O gogó de Aquiles. São Paulo. A Girafa Editora. 2004.
VIVACQUA, Renato. Música Popular Brasileira. Cantos e Encantos. São Paulo. João Scortezi Editora. 1992.
LISBOA JUNIOR, LUIZ AMÉRICO. 81 Temas da Música Popular Brasileira.Itabuna: Agora Editoria Gráfica Ltda, 2000.
CUNHA, Maria Clementina Pereira. Ecos da Folia. Uma história social do Carnaval Carioca entre 1880 e 1920. São Paulo: Companhia das Letras. 2001.
ENEIDA. História do Carnaval Carioca, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 1958.
SEVERIANO, Jairo. MELLO, Zuza Homem de. A Canção no tempo. 85 anos de músicas brasileiras. Vol 1. 1901-1957.São Paulo: Editora 34. 1997.
VALENÇA, Soares Suetônio. Tra-lá-lá. Rio de Janeiro: Funarte. 1981.
SEVERIANO, Jairo. MELLO, Zuza Homem de. A Canção no tempo. 85 anos de músicas brasileiras. Vol. 2. 1958-1985. São Paulo: Editora 34. 1998.
MARIZ, VASCO. A Canção Brasileira. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira. 1985.
PASSOS, Claribalte. Vultos e Temas da Música Brasileira. Rio de Janeiro: Paralelo. 1972.
ALENCAR, Edigar de. O carnaval carioca através da música, 2 vols. Rio de Janeiro: Freitas Bastos. 1965.
TINHORÃO, José Ramos.Pequena história da música popular. São Paulo: Art. 1991.
ANDRADE, Mario de. Aspectos da Música Brasileira. São Paulo: Livraria Martins Editora. 1965.
DIDIER, Carlos. Nássara – Passado a limpo. Rio de Janeiro: Editora José Olympio. 2010.
SANTA CRUZ, Maria Aurea. A Musa sem máscara. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1992.
MARTINS, J.B. Antropologia da Música Brasileira. São Paulo: Editora Obelisco. 1978.
CALDAS, Waldenyr. Iniciação à Música Popular Brasileira. São Paulo: Editora Ática. 1989.
CABRAL, Sérgio. Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Lazuli Editora. 2011.
BARBOSA, Valdinha. DEVOS, Anne Marie. Radames Gnattali – O Eterno Experimentador. Rio de Janeiro: Funarte. 1985.
TINHORÃO, José Ramos. Pequena história da música popular: da modinha ao Tropicalismo. São Paulo: Art Editora. 1986.
TINHORÃO, José Ramos. Música Popular: um tema em debate. São Paulo: Editora 34. 1997.
CABRAL, Sérgio. Pixinguinha. Vida e Obra. Rio de Janeiro: Lumiar Editora. 1997.
MPB COMPOSITORES – Você e a MPB. Contém biografias, fotos, discografias e CDs. 41 CDs e 40 fascículos. Editora Globo.
OS GRANDES SAMBAS DA HISTÓRIA. Contém biografias, fotos, discografias e CDs. Editora Globo e BMG gravadora.
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• Visite os posts CANTORES DO RÁDIO e BRAGUINHA 90 anos 90, em ALMANAQUE QUALQUER NOTA, vol 1 e vol.2.
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Carlos Alberto Ferreira Braga, o Braguinha, ao comemorar 90 anos:
– A vida gosta de quem gosta dela.
Braguinha morreu em 24/12/2006, aos 99 anos.
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O CD “CadaUmComSeuCadaUm pode ser ouvido: Youtube Music, Spotify, Deezer, Apple Music.