Pelo meio dos anos sessenta eu andava bem no meio da noite aqui na Paulicéia. E o maior desvario era a boite Vogue, na rua da Consolação, Nestor Pestana à direita.O nome da rua não poderia ser mais oportuno. Mas, isso fica pra outra hora. O fato é que, numa das madrugadas – meia-noite era muito cedo – vejo Erasmo Carlos às voltas com alguém ou alguns, afins de bater no Tremendão. Ele, sempre cercado, com fama de mau provocava uma inveja danada, e vi que o pau ia comer feio. Bater no Tremendão equivalia bater o xerife num duelo, e eu, chegando com meu barquinho a deslizar no macio azul do mar, me apresentei, solidário à Jovem Guarda. O quebra não rolou e fui tomar meu uísque.
Nasceu uma simpatia. Nos reencontramos algumas vezes; eu, com meu pinho, passava diante da sua mesa, ele – cheio de anéis, chapéu, mulheres bonitas – Oi, Bossa Nova!
Mais de quinze anos, depois de ter escrito “Superfantástico” para o Djavan, “Juntos” para Baby Consuelo e Pepeu, “É tão lindo” para o Roberto Carlos, “Amigos do Peito” para o Fábio Jr., a gravadora CBS convidou Erasmo para cantar com as crianças e eu fiquei muito feliz, muito mesmo. Escrevi essa letra para ele.
Barato bom é da barata ( E. Tomaz Aragon, F. Guerra e Edgard Poças)
Oi, gente amiga
que se liga no balão
eu tava louco pra pintar na gravação
veio uma véia
uma véia idéia
então
escuta um pouco
que tremenda piração
Barato bom, barato bom é da barata
dona girafa que gravata
o canguru tá dentro do seu bolso
e o seu pato com a pata no seu pé
parece sim que o pinguim tá de casaca
e o siri de marcha à ré
Que letra massa
pra botar no festival
o nosso grupo
é o barato total
E vem a véia
vem a véia vaia
então
já tô tremendo, tô tremendo
tremendão, ão, ão, ão
Vi uma cigarra
de cigarrinho na mão
eu já vi uva
mas o Ivo via não
eu amo ela
mas debalde não dá não
eu vi o Lino
c’uma mão
no violão
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Pré gravação, falamos por telefone:
:- Erasmo, fiz uma letrinha bem simples!
– Poças, se simplicidade fosse fácil já tinham feito outro “Parabéns à você”.
Em 1987, após terminar de compor algumas musicas para o primeiro LP da dupla Jairzinho e Simony – primeiro e único, a despeito do enorme sucesso de Coração de Papelão – fui ao escritório do grupo editorial Arlequim para assinar o contrato de versão da musica Pirata, incluida no disco, cujos direitos autorais eram administrados por eles. No cafezinho contei ao Waldemar Marchetti, o Corisco, diretor do grupo, que, alguns anos atrás, havia colocado musicas de Ary Barroso, Braguinha, Wilson Baptista e Hervé Cordovil no repertório da Turma do Balão Mágico, e ele sugeriu que eu olhasse o catálogo das obras do seu grupo editorial, quem sabe, poderia encontrar material para futuros projetos. Me interessei por uns pequenos albuns de composições do grande Garôto (Annibal Augusto Sardinha, 1915 – 1833) – que continham somente melodias, sem os acordes cifrados; ganhei a coleção e a promessa de que poderia letrar as melodias que eu quisesse.
Achei essa jóia de valsinha, Sapateando. Por um tempo trabalhei nesse tema, mas, no final optei pelo beijaflor. Espero que o Garôto não se zangue.
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Garoto foi genio. Faz parte da galeria dos maiorais da nossa musica. Pai do violão modernos, multiinstrumentista excepcional e compositor revolucionário.
Siga as as indicações abaixo e constate o quanto o garoto paulistano contribuiu com a MPB. A Bossa Nova que o diga.
Antonio Carlos Jobim compos o belo choro Garoto em sua homenagem.
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Excelente trabalho: “O Violão de Garôto” – A escrita e o estilo violonístico de Annibal Augusto Sardinha. Celso Tenório Delneri
Talvez, em algum sebo, ou pela NET, ainda poder-se encontrar algum exemplar da ótima monografia “Garoto – Sinal dos Tempos”, de Irati Antonio e Regina Pereira. Editora Mec / Funarte. 1982
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Contracapa do primeiro LP de Paulo Bellinati com a obra de Annibal Augusto Sardinha, o imortal Garoto.