Nesse lugar de Santiago, freguesia de Melres, concelho de Gondomar, distrito do Porto, nasceu meu pai, Diogo. Bati esse foto em 1969, quando estudava no Porto, morava à rua da Constituição e num sábado de sol de inverno cismei de registrar essa paisagem vista do alto da estrada marginal ao rio Douro que me levava a casa dos meus avós Albino e Maria Emília. Bestial, pois não? Me lembra Fernando Pessoa, me lembra Caetano Veloso e os os rios que passaram em suas vidas.
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grande navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
Alberto Caeiro, O Rio da Minha Aldeia.
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Onde eu nasci passa um rio
Que passa no igual sem fim
Igual, sem fim, minha terra
Passava dentro de mim
Passava como se o tempo
Nada pudesse mudar
Passava como se o rio
Não desaguasse no mar
O rio deságua no mar
Já tanta coisa aprendi
Mas o que é mais meu cantar
É isso que eu canto aqui
Hoje eu sei que o mundo é grande
E o mar de ondas se faz
Mas nasceu junto com o rio
O canto que eu canto mais.
Caetano Veloso, Onde Eu Nasci Passa Um Rio.
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A gravação foi tirada do LP DOMINGO – CAETANO VELOSO e GAL COSTA, de 1967. Um disco lindo: Coração vagabundo, Onde eu nasci passa um rio, Avarandado, Um dia, Um dia, Domingo, Nenhuma dor, Candeias, Remelexo, Minha senhora, Quem me dera, Maria Joana – meu filho Diogo gravou lindamente – e Zabelê. Está nas lojas, relançado em CD e no Youtube, no endereço: http://www.youtube.com/watch?v=jWDuejEHZqg
Como diria nosso querido Baden Powell: – Encosta pra ver se dá!
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Repare no timbre do Caetano: areia na voz, rascante, como se diz em Portugal, pura, que nem essa foto batida naquele sábado distante, quando me achei sozinho e vi que não entendia nada, nem de pro que eu ia indo, nem dos sonhos que eu sonhava. Ia.
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Foto atual enviada po João Manuel Viana que mora na região.
O tempo não para mesmo.
– Ó Vitor, traga-me logo a pipa!
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Albino e Maria Emília, meus avós portugueses
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Casa onde nasci, na rua São Leopoldo, no Belenzinho. São Paulo.
O tempo não para mesmo.
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