Viva Antonio Carlos Jobim!

Viva Tom Jobim!

25 de janeiro. Aniversário de São Paulo, e do maior compositor de música popular de todos os tempos! Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim!

Semibreves

• Wave

Era o tempo dos radinhos Spika, e dos primeiros disk-jockeys; eu era um.  Com uma vassoura velha como microfone, ia mandando para o ar o Hit Parade da discoteca do meu pai. Grandes sucessos . Mantovani, Percy Faith, Chuck Berry, Teddy Reno, Carlos Gardel, Sammy Davis Jr, Dean Martin, Angela Maria, Dorival Caymmi, Rosemary Clooney… O primeiro lugar vinha sendo dia-dia disputado pelo Frankie Layne, com Jezebel e Black Gold, pelo Roy Hamilton, com Ebb Tide e Unchained Melody, e pelos Diamonds com Little Darling, o estouro do ano.

“Oh little darling

Tchup tchu-ara

Tchup tchu-ara

Oh little darling

Oh oh oh oh”

A versão em português foi gravada por Lana Bittencourt e também estourou, mas, do lado B, vinha uma canção pelo ar, uma cidade a cantar, uma mulher a cantar “Se Todos Fossem Iguais a Você”, de Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, que conquistou a audiência e ficou semanas no topo da parada. Foi a primeira vez que vi o nome dessa sublime parceria.

E, um pouco mais que de repente, chegou “Chega de Saudade”, e o disk-jockey largou a rádio no ar, e tratou de aprender violão.

 •

• Tom

Fotografou o som

com sua Rolleyflex

revelou-se a sua enorme inspiração.

• One Finger

Meu amigo e parceiro Luiz Roberto Mello e Souza Oliveira, paulista do Leblon, músico e tomaníaco, numa visita ao Colégio Mello e Souza, no Rio de Janeiro, encontrou nos seus arquivos, o script de uma peça, que foi representada pelos alunos, lá pelos anos trinta do século passada.

O autor, não sei quem era. mas, no papel de Dr. Carrapatoso, estava o garoto Antonio Carlos Jobim.

Aquele um.

• Meditação

Antonio

Carlos

Brasileiro

de

Almeida

Jobim

Antonio Carlos Planetário de Almeida Jobim

Tom Mixer.

 • Outras notas, mas, a base é uma só.

#1. O grande Ronaldo Bôscoli, letrista de “Lobo Bôbo”, “Barquinho”, “Fim de noite”, “Saudade Fez um Samba”, “Você”, e muitas outras da Bossa Nova, por pouco não foi o letrista de um tema que Tom Jobim mostrou a ele em primeira mão. Chegou a fazer um esboço, mas foi seu cunhado Vinícius de Moraes, quem acabou escrevendo a letra de “Garota de Ipanema”.

#2. Vinícius não acertou de cara na letra, e quem quiser conhecer uma tentativa (Menina que Passa),leia “Antonio Carlos Jobim, uma Biografia”, de Sérgio Cabral, Ed. Lumiar. Tem também no Cancioneiro Jobim.

#3. Ronaldo Bôscoli reinvindicava que foi ele quem apresentou o Tom a Vinicius, e não o Lúcio Rangel, na lendário Casa Villarino Bar.

#4. Tom, Bôscoli e João Gilberto fizeram 2 músicas em parceria!               Uma, ninguém lembra mais, e a outra,  

Só a saudade assim, faz um dia a gente saber que o amor existe, sim.             Só um dia assim, faz a gente sentir que o amor chegou ao fim…

ficou, segundo o maestro, um plágio de “Meditação”, também dele, em parceria com Newton Mendonça.

#5. Ronaldo Bôscoli foi quem escreveu os versos para a introdução recitativa do “Desafinado”: Quando eu vou cantar você não deixa…

#6. Segundo ele, os nomes de mulher de mulher citados nas músicas de Tom, não tem nada a ver. Ana Luiza, Lígia etc… todos esses nomes são códigos. Inclusive Ângela, que ele fez para o Roberto Carlos – o qual, aliás, estupidamente, a esnobou – é linda.                                                                         –  Miéli e eu praticamente obrigamos o Rei a cantá-la num show – e ele finalmente a cantou, entre um e outro pot-pourri de seus sucessos.

#7. Bôscoli afirma também que colaborou em Luíza com sete cores, sete mil amores.

A resposta do Tom, e a confirmação dessas dicas, vocês encontram no livro Eles e Eu – Memórias de Ronaldo Bôscoli, por Luiz Carlos Maciel e Ângela Chaves, Editora Nova Fronteira.

#8. A música Corcovado, pra mim, a cara da bossa nova, começava originalmente, com cara de samba canção:

                                          Um cigarro um violão….       

nada condizente com os estatutos ensolarados da BN, remetendo ao Cubo das Trevas – assim, Tom chamava as antigas boites esfumaçadas onde ele tocava seu pianinho, correndo atrás do aluguel.

Quem deu o toque, e Tom aceitou, foi o mago de Juazeiro, João Gilberto      do Prado Pereira de Oliveira, e ficou assim:

Um cantinho e um violão…

#9. Tom nasceu num dia 25 de janeiro – aniversário de São Paulo, e “Chega de Saudade”, com João Gilberto estourou em São Paulo, e, no início dos anos sessenta apresentava um programa de televisão na TV Paulista, canal 5! Acredite quem quiser! O programa chamava-se “O Bom Tom” e eu tive a felicidade de assistir vários deles. Lembro dos programas com João Gilberto, Luís Bonfá, Ronaldo Bôscoli. Jamais vou esquecer de Vinícius, Aloysio de Oliveira e Sylvia Telles abraçados, dançando e cantando “Eu preciso de você”, como se fosse um can can, com o maestro soberano ao piano.

Como o sol precisa de um poente

Eu preciso de você

Só de você

Como toda orquestra de um regente

Eu preciso de você

Só de você…

É duro aceitar que não temos sequer um fotograma de “O Bom Tom”. Incrível é que o programa era o segundo lugar em audiência em São Paulo, perdendo apenas para o Cirquinho do Arrelia, no canal 7!

#10. Carinhoso.

LP (ou CD) do Século

janeiro de 2000

Estamos nos aproximando da virada do século, e pelo jeito que as coisas caminham, o espaço pro genial está totalmente preenchido, visto que proliferam eleições e coleções dos melhores de tudo, de tudo que é assunto, e com um ano de antecedência.

É de se supor que, ninguém mais acredita caber mais alguém, nessa nau dos imortais que partiu, no oceano sem praias…

E, já que estamos fechando para balanço, apresento o meu voto, que aliás, ninguém perguntou, para o melhor CD ou LP deste século de musica popular:

Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim

Beleza, charme, técnica, afinação, repertório, execução, balanço, mixagem, sonoridade, harmonia, timbrística, delicadeza, discrição, amor pelo trabalho, profissionalismo, coração. Bossa.

O maior cantor de todos os tempos e o maior compositor da música popular.

Um telefonema, do próprio Frank, pro Bar Veloso, deu o chute inicial.

As gravações, com os belíssimos arranjos de Claus Ogerman, iniciaram dia 30 de janeiro de 1967 as 20 horas.

A formação da orquestra era de 10 violinos, 4 violas, 4 cellos, 3 flautas, trombone, contrabaixo, piano e 2 bateristas, um para as músicas americanas, e o Dom Um Romão para as brasileiras, atendendo a um pungente pedido do Tom : – Se você não vier, vou entrar por um cano que não tem tamanho!

E aquele violãozinho do Astênio Claustro Fobim  “que não tocava bem”, mas que tocava como ninguém, bem colocado, suingado, preenchendo os espaços com elegância, e sem malabarismos, o violão mais bossa nova de toda Bossa Nova.

(João Gilberto é outro assunto).

Contracantos geniais, as chamadas  “inner voices”, que o nosso Maestro fazia magistralmente.

O CD, remixado, contem algumas intervenções geniais, que não aparecem no LP. Por exemplo, a “baixaria “ que o Tom faz em “I Concentrate on You” enquanto o Frank está cantando, o final de “Garota de Ipanema” (aliás a melhor gravação desta música, (São João que me perdoe) e outras mais.

A primeira música gravada foi “Baubles, Bangles and Beads”. Sinatra não gostou: – Preciso botar menos gelo nos meus drinques!

Mandaram o Tom cantar mais alto. Sinatra aconselhou :

– Abra o paletó, mostre o colete à prova de balas e cante.

Mataram às 20h e 45m, no setimo take.

A primeira música de Tom Jobim que o Frank gravou foi Dindi, que terminou lá pelas 23 horas com o comentário do “The Voice” :

– Porra, que beleza de canção!

Sinatra brincou com Ogerman e Tom sobre a delicadeza e a suavidade dos arranjos : – Não canto assim desde que tive faringite !

Foram três noites de gravação, jantares e drinques, e o resultado foi eleito pela crítica americana como o àlbum do ano.

Para mim esses dois batutas produziram o tal biscoito fino, o melhor do século!

Quem quiser que mostre outro.

Como diria o nosso Baden Powell: – Encosta pra ver se dá!

O homem cordial e bondoso.

• E voltei pra minha nota

#10. Um dia, papeando com o maestro soberano, contei a ele que minha mãe se formou em piano no Conservatório Dramático Musical de São Paulo, onde foi aluna de Mário de Andrade, em História da Música; ele abriu um sorriso e com seu jeito cordial disse:- Que bom, Edgard, os paulistas são formidáveis e os Andrades (Oswald e Mário) são dois craques!

Brincando, aproveitei a chance e falei, que ele estava devendo uma musica para São Paulo, afinal ele nasceu no dia 25 de janeiro, e ele disse que estava fazendo. Aqui está ela:

#11. Apostaria minhas colcheias que o “Prelúdio Nº3”, para violão, de Heitor Villa-Lobos, foi motivo de inspiração para a maravilha que é “Saudades do Brasil”.

#12. O trisavô paterno do compositor, José Martins da Cruz Jobim, era natural de Jovim, Gondomar, Portugal. O sobrenome Jobim alude a essa localidade.

Ora pois: será que aí não houve a troca “B” pelo “V” e bice bersa, ó pá?

Viva o nosso Tom!

 Rei, que nem Pelé!

 Tom brasileiro!

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4 Responses to “Viva Antonio Carlos Jobim!”

  1. Gostei muito do texto. Melhores definições seriam impossíveis de serem forjadas. Parabéns Edgard. Aproveito a oportunidade, para indagar se vc tem algum registro, ou mesmo uma crônica, abordando sua passagem pelo Show de Radio, sucesso do saudoso Estevão Sangirardi e contava com a participação de jovens que se tornarão humoristas famosos, como foi o caso do Serginho Leite, também saudoso. Quando vc mencionou os radinhos de pilha, me veio à memória esse programa maravilhoso, produzido e apresentado na Jovem Pan, durante os 15 minutos de intervalo dos jogos de futebol. Eu fui um ouvinte fanátivo do programa enquanto ele existiu. Valeu Edgard, um abraço fraterno.

  2. Edgard Poças disse:

    Querido amigo

    Mais uma vez, obrigado pela sua presença sempre bem-vinda aqui no blog. Estou procurando uma brecha para falar sobre o Show de Rádio, Vinicius Poesia e Canção, Miécio Café, etc… mas, os trabalhos dão um trabalho!

    Abraço do Edgard

  3. Não sabe como fiquei emocionada em ler teu comentário em meu blog. Não sabe a importância da tua obra na minha vida…melhor ainda encontrar no teu blog suas histórias!
    Vou te mandar um e-mail para que possamos conversar!
    Conte com meu espaço pra divulgar seu trabalho!
    Grande abraço, Tati

  4. Edgard Poças disse:

    Oi Tatiana!

    Tenho trabalhado pesado em alguns projetos e não frequentado o blog, por isso nnao te respondi antes. Achei que vc iria enviar um email. Mais uma vez agradeço suas palavras. Mande um email sim. Abraço. Edgard

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