Arapuã • Gol Copa • Um frango na cadência do samba.

O ano era 1982. Ano de Copa do Mundo na Espanha.

O Brasil tinha um timaço e ia estrear no torneio em Sevilha contra a antiga URSS.

A Volkswagen lançava o Gol Copa e as Lojas Arapuã, como revendedora, tinha um plano de mídia digno do acontecimento.

A agência de propaganda Proeme bolou o roteiro de um filme em que o Waldir Peres – goleiro da seleção canarinho, reserva nas Copas do Mundo de 1974 e 1978 e agora titular – com sua autoridade de guardião afirmava algo assim:

– Nessa Copa, o único gol que vai entra aqui vai ser êsse!  E um Gol Copa entrava gloriosamente na meta brasileira.

Fui chamado, no dia  primeiro de abril (hum), para fazer a trilha do filme e o briefing, como era de se esperar era o antológico Que bonito é, de Luiz Bandeira

Que bonito é

Ver um samba no terreiro

Assistir a um batuqueiro

Numa roda improvisar…

que na verdade se chama Na Cadência do Samba. Tinha que compor algo instrumental, no estilo,  sem ser parecido.

Passei uns dias compondo, decompondo, escrevendo a partitura, fazendo as cópias para os músicos, enfim,  daquilo que seria, pelo menos eu achava, meu golaço publicitário.

No dia do jogo, 14 de junho, sentei no sofá, liguei a TV  como todo brasileiro que se preza, na companhia de amigos, cerveja gelada e acompanhamentos, para assistir a peleja. Em clima de pré jogo, o filme e meu samba rolaram bonito logo no início da tramsmissão, putz, vai ser um sucesso! Brasil!

Acontece que meu coração ficou frio:  aos 33 do 1º tempo um tal de Bal, mal ajambrado, chuta de longe e num lance de infelicidade, Waldir Peres, um dos maiores goleiros que eu vi jogar, engoliu aquilo que no futebol se chama de frango ou perú, que pena! Meu sambagoldeplaca ficou reduzido a uma mísera execução. Tiraram imediatamente do ar apesar do placar final de 2 x 1 a favor do  Brasil. A seleção passou bem pela primeira fase e na segunda batemos a Argetina, al borde de un ataque de nervios, y después não quero nem lembrar. Deu em pizza.

Mas o samba tá aí, voando, de novo no ar.

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Voa, canarinho, voa… mostra na Espanha o que eu já sei…

Voa, canarinho, voa… mostra pra esse povo que és um rei…

Copie o endereço e assista:

 

Agência: Proeme

Produtora do filme: Espiral

Músicos: Azevedo (Trumpete), Bill e Pantera (trombones), Hector Costita (sax alto), Isadoro “Bolão” Longano (sax tenor), Carlos Alberto (sax barítono), Chiquinho Rodrigues (violão e percussão), Nãolembro Dequem (contrabaixo e bateria)

Técnico: Mazzuca

Gravação: Estúdio Bandeirantes em 5 de abril de 1982

P.S.: O trumpetista (Azevedo) chegou na gravação, devia ser umas dez da manhã, exausto e com os lábios estourados de tocar à noite toda no Som de Cristal, a mais conhecida gafieira de São Paulo que ficava na rua Bento Freitas, hoje não existe mais:

– Maestro, eu não vou conseguir tocar tão agudo não, olha só!

Os lábios estavam muito inchados e parecia que ele saiu duma luta de box. E  agora onde eu acho um trumpetista? Abaixar o tom agora, depois de toda borracha que eu gastei?

Os músicos esperando para gravar e eu sem o solista…

Aí o Chiquinho Rodrigues, que além de músico fixo do estúdio tambem fazia freelance de anjo da guarda, trouxe a solução:

– Vamos gravar o pessoal sem o trumpete , depois, baixamos a rotação da máquina, o Azevedo grava num tom mais confortável, e quando voltarmos ao original vai ficar beleza!

O Azevedo tocou relax, eu gostei a agência aprovou, e o resultado, apesar dos pesares, taí, voando no espaço.

Valeu Chiquinho!

 

 

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